A nossa 33ª edição do ‘RockBreja+Prosa’ conversa com os integrantes da banda SOMBA, Guilherme Castro e André Mola. Eles contaram um pouco sobre curiosidades sobre o estilo da banda, lei de incentivo a cultura, primeiros contatos com o rock, suas aventuras cervejeiras e preferências brejeiras.
Para quem não conhece a SOMBA, eles já tem cerca de 5 álbuns lançados, o mais recente, ‘Homônimo’ já falamos dele em nosso Review (clique aqui) e foi só elogios, então estava demorando de nós conversarmos diretamente com a fonte da criatividade musical que eles tem, pois bem, a banda lembra um pouco da fase ouro da Tropicália, entra numa viagem do progressivo e no final não sabemos, qual estilo eles são.. acho que eles nos ajudaram a definir…
Pega sua Quadruppel e vem se aventurar na entrevista!
ROCKBREJA: Obrigado Guilherme e André pelo espaço concedido em responder as nossas perguntas, bom primeiramente acho que todos querem saber, porque o nome SOMBA?
Guilherme Castro: É uma sigla maluca que inventamos. Originalmente, significava uma corruptela de Som Bagulho, que era quando eu e Avelar (baixista) escutávamos um som muito doido, referíamos a ele como “som bagulho”. Posteriormente, virou outras coisas: Sistema Organizado de Música Brasileira Autônoma, Sopa de Orapronobis com Macaxeira e Banana Assada, Somos Outros Músicos Brasileiros Ainda… etc. Virou uma brincadeira nossa, que reflete um pouco da nossa personalidade.
ROCKBREJA: De quem foi a ideia de fazer esta mistura de línguas no disco atual da banda?
Guilherme: A gente sempre teve isso de tratar a língua como mais um parâmetro de composição. Desde nosso primeiro EP (Abbey Roça – 2000), que temos música em inglês “Target” e em língua inventada (Mah no Cry). No Clube da “Esquina do Aflitos” (2003), ampliamos isso também com “Embroñaggio Del’amore”. E desde então, todo álbum nosso tem músicas em português e alguma em inglês ou em alguma linguagem estranha. Faz parte de como concebemos a música. Não tem muita regra não. Tem músicas que nascem em inglês e assim se realizam melhor. Em outras, o português cabe perfeitamente. Nesse último álbum, foi meio natural a continuação disso. Acho que faz parte de como pensamos a música: sem muitos rótulos e com bastante liberdade criativa.
ROCKBREJA: Eu não defini um estilo especifico quando ouvi o álbum para escrever sobre ele, como vocês classificam o estilo da banda?
Guilherme: Pois é, eu também não… (risos). Brincadeira à parte, o rótulo que talvez se encaixe melhor para nós é um que existe mais nos Estados Unidos, que é a Jam Band. Jam Bands se caracterizam por não trabalhar um gênero específico como marca sonora, como acontece com o Metal, Samba, Salsa ou qualquer outro gênero. Nas jam bands, qualquer coisa é material para ser trabalhado, sempre se utilizando de muita improvisação. Podemos citar bandas nesse estilo e que nos influenciam: Phish, The Grateful Dead, Dave Mathews, etc.
ROCKBREJA: O que vocês acham da Lei do Incentivo à Cultura que ajudam as bandas nos processos em sua carreira? Comente sobre isso:
Guilherme: Ela teve origem nobre, funcionou durante um tempo de maneira razoável, mas para mim, hoje, está falida. Tem que ser reformulada ou repensado o modelo. Está mais atrapalhando o mercado do que ajudando. Cria-se uma constante dependência do estado e, apesar de trabalhos novos e originais precisarem muito mais de apoio do que as iniciativas artísticas consolidadas, o que se vê é que estes trabalhos não conseguem se tornar autossustentáveis. E para piorar, os poucos recursos destinados a esse fim têm a sua destinação definida por departamentos de marketing de grandes empresas, o que submete o artista a uma atitude meio que de mendicância empresarial, tendo que disputar recursos com nomes consolidados e de maior visibilidade, o que costuma ser mais interessante somente para as empresas. Então não funciona para a finalidade originalmente pensada: incentivo. Vira quase que puro e simples marketing com dinheiro público, uma distorção de finalidade. Acho que o estado se utiliza disso para lavar as mãos, como se isso fosse política cultural. Mas sua função maior que, a meu ver, seria a regulação do mercado justamente para evitar distorções, ele não está fazendo. Seria mais prático, funcional e efetivo, por exemplo, que as doações a projetos de crowdfunding (financiamento coletivo) pudessem ser descontadas de impostos já pagos. Acho que essa simples atitude já viabilizaria muita coisa, já seria muito mais efetiva como política cultural.
André Mola: Bom, Guilherme já disse o bastante sobre a minha visão das Leis de Incentivo, porém é válido frisar que as empresas que geralmente são “financiadoras” dos recursos para que os projetos possam acontecer, visam de fato, puro e simplesmente seu marketing pessoal, descaracterizando e distorcendo o objetivo principal de fomentar o acesso à cultura, estimulando a produção artístico-cultural brasileira.
ROCKBREJA: Em breve vocês irão lançar um DVD ao vivo e como estão os preparativos para este trabalho?
Guilherme: Os vídeos estão editados já. Estamos estudando a melhor forma de distribuição e divulgação desse material, que ficou muito bom. Uma parte dele já está no YouTube.
ROCKBREJA: Como foram os seus primeiros contatos com a música?
Guilherme: Comecei tarde, com 16 anos. Comecei na guitarra, com uma banda chamada Doppler. Passei por várias bandas (José, Gimme Shelter, Azavherus, Incrível Rúcula) Mas depois estudei violão erudito, piano, até que entrei e me formei em composição na UFMG. Depois continuei meus estudos, terminando meu mestrado em música também na UFMG e meu doutorado em música na UNICAMP.
André: Como em quase todas as casas, na minha havia um violão velho e desafinado (risos). Como sempre fui ligado à música, aos 13 anos comecei pesquisando revistinhas de acordes e tentando produzir no violão as mesmas notas que ouvia nas músicas que tinha maior apreço. Tomei gosto pela coisa e, até hoje sigo como músico, guitarrista e, ao contrário do nosso amigo Guilherme, minha “formação” foi totalmente como autodidata. O que acho muito válido, pois o que se aprende com as parcerias nas diversas bandas que tive e tenho até hoje não tem preço.
ROCKBREJA: Entrando no mundo da cerveja, qual breja vocês tomaram e gostaram de conhecer?
Guilherme: A que me pega mais é a La Trappe Quadrupel. Adoro essas cervejas trapistas. Mas sou Total Flex (risos). Sendo uma boa cerveja, bem elaborada, a tendência é de que eu vá gostar, não importando se é uma IPA, Pale Ale, Porter, Stout, Lager, Weiss. Acho muito bom que essa cultura tenha entrado no Brasil.
André: Falando apenas em estilo, primeiramente me agradam bastante as cervejas mais lupuladas como as IPAs, gosto bastante das Red Ales e também das mais alcoólicas (nos mais diversos estilos, Russian Imperial Stout, Trippels, Quadruppels, etc). Não sou muito fã de Weiss, talvez por ter sido uma das primeiras cervejas “diferentes” a entrarem no mercado. O que acontece é que gosto sempre de experimentar novas cervejas.
ROCKBREJA: Vocês moradores de Minas Gerais, tem a sorte de ter duas cervejarias que são bem famosas fora do estado, a Küd e a Backer. Vocês já conheceram as cervejas deles? Quais vocês já degustaram?
Guilherme: Sim. O mestre cervejeiro da Küd (Alencar) é amigo meu e já trabalhamos juntos em uma empresa de conteúdo para celulares. Inclusive, já fiz curso de cervejeiro lá, ministrado pelo Pablo Carvalho. Gosto muito das cervejas da Küd, principalmente a Tangerine e a Kashmir. Led Zeppelin, né? (risos). A Backer também tem cervejas bem legais. Mas aqui teve um grande estouro de microcervejarias, com ótimas iniciativas, como a Vilã, Jambreiro, e a Artesana, de amigos nossos (Maurício Ribeiro e Edson) e que inclusive, ficaram de elaborar uma cerveja em nossa homenagem, a ‘Sombacana’, uma Saison.
André: Conheço todas da Küd e Backer e tenho preferência das cervejas da Kud, não somente pelo paladar, mas também pelo link da cervejaria com o rock’n roll (risos). Minas Gerais tem hoje, inúmeras microcervejarias, pessoas produzindo breja em casa, enfim, uma infinidade de sabores e aromas sendo experimentados por aqui. Negativamente acho só que deveria haver mais incentivo por parte do governo para isso, já que as grande cervejas Belgas, Alemãs chegam aqui com o preço bastante elevado.
ROCKBREJA: Para finalizar, Rock e Breja, o que faz pensar nesta combinação?
Guilherme: Boas sensações. Um combina com outro.
André: Que eu me lembre sempre que estou ouvindo ou fazendo um rock, paralelamente estou com alguma breja na mão! (risos) (Acho que falou com a pessoa certa)(mais risos)
ROCKBREJA: Uma mensagem final aos fãs do SOMBA ao nosso site:
Guilherme: Nosso grande abraço, e para quem não nos conhece, espero que curtam nosso som pelo www.somba.com.br, ou Facebook, YouTube ou ainda no SoundCloud . Estamos também presentes em várias plataformas de streaming, como Spotify, Deezer, GooglePlay, iTunes, etc.
André: Acho que as pessoas pararam de procurar coisas novas, sons e bandas que estão fazendo coisas boas e parecem estar satisfeitas com “mais do mesmo”. Chamo estas pessoas para não perderem a curiosidade de descobrir novos ares, novas misturas sonoras, principalmente novos nomes da nossa música, pois tem muita coisa boa sendo feita, e pouca demanda curiosa para receber/ouvir! Procurem a banda SOMBA nas diversas mídias e procurem também bandas diferentes!
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Agradecimentos: Rômel Santos (Island Press)