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Gosotsa – O Sol Tá Maior III (2018)

Coloquei o CD no carro, num volume expressivo e logo se inicia um som de batera matador (me fez logo lembrar dos tambores da bateria de Eric Car no disco Creatures of the Night), tambores ensurdecedores!

Complementando a cozinha, ouço guitarra pesada, baixo na mesma proporção e as vezes saltando aos ouvidos, tão pesado quanto! Tudo caminhando certinho, redondinho até entrar a parte da voz! Demorei um pouco para entender que algo de diferente estava acontecendo, pois a voz não se encaixava nas melodias da música, do instrumental.

Isto se deu não somente na primeira mas como também em todas as demais faixas do disco.

Com o tempo fui entendendo que isso foi proposital, a banda quis de fato fazer isso, quis que a parte das vozes soassem, talvez, como poemas declamados ou como um recital de palavras, como uma narrativa contínua, independente do que o instrumental estivesse nos mostrando.

Esta é a proposta da banda Gosotsa, um conceito revolucionário em não ter um padrão definido em suas músicas, mas sim acrescentar e miscigenar música, vídeo, poesia, artes plásticas, literatura, teatro, fotografia e performance ou seja, várias manifestações artísticas na música! Como a própria banda define: “-É todo um movimento artístico de ruptura!“.

Tudo isso está no disco O Sol Tá Maior III. E por qual motivo III? Eu respondo… simplesmente por ser uma trilogia muito incomum e bem peculiar: o volume I foi todo gravado pelo vocalista Drannath (ex-Bastardz – banda carioca) e lançado em 2019, o volume II foi lançado em 2016 e o volume III, motivo deste review, lançado em 2018.

Normalmente os artistas estão preocupados em se dar bem e ganhar rios de dinheiro, serem famosos e tal, sem se preocuparem com o seu legado e muito menos com o quanto irá durar sua arte.

O convencional, o comodismo e o o modismo não interessam pra banda, tudo o que está na moda, tudo que é efêmero e descartável, como artistas de um sucesso apenas, que logo são esquecidos pelo público e mídia, não interessam, não vingam. O que interessa é o legado associado ao registro que são eternizados para a posteridade, uma obra que é lembrada tem um valor inestimável, tem o seu registro histórico e permanente: isso sim é importante pra banda!

Destaque para as faixas “Caminhão de Salto Alto“, minha preferida do disco e “Que Babe“.

Hoje, pode parecer tudo meio confuso, porém com o passar do tempo as pessoas poderão assimilar esta ruptura que Drannath sempre se refere, este trabalho com mais familiaridade, com um olhar mais diferenciado e conciso.

No começo pode até chocar, mas é questão de tempo para as pessoas assimilarem o som dos caras.

O que estou tentando dizer é que a banda tem não só uma sonoridade, mas parece que tudo é não linear. É uma estética que eles construíram que eu nunca vi em lugar algum. É um leque de possibilidades incrivelmente infinitas.

Com relação à formação atual, e que gravou o Volume III, temos Malu Gubolim, nas guitarras, no lugar de Lippau (que gravou em 2016 o Volume II) além de Élitra, nos tambores e Poesias e Drannath (Baixo, Piano, Voz, Pinturas, Poesias, Ilustrações, Textos e Design Gráfico e etc).

Arte
O material físico que recebemos é um CDR independente, muito bem impresso e envernizado.
A foto da capa é bem ao estilo Glam e Hard Rock dos anos 70 e 80, aliadas a luzes, pinturas com os três integrantes
atuais.

Senti a falta de um encarte já que as palavras são tão importantes assim pra banda mas não posso deixar de registrar aqui que recebi (por e-mail) um release da banda com 32 páginas com muito texto e fotos sobre o universo gosotsasiano, que posso entender que é um complemento do material físico

Outra coisa que achei um pouco confusa, num primeiro momento, foi o logotipo, além da tipografia bem particular ele está bem discreto, quase não havendo contraste entre o logotipo e o fundo dele.
O título do disco está na contra-capa, seria esta mais uma quebra de padrões?

Não podemos esquecer que tem os livros que dão ilustrações às músicas. Tem um livro de poesias ilustrado que complementa o álbum (Volume I).
A literatura aliada a artes musicais estão muito presentes em tudo o que a banda faz e também tem HQ com a ilustração de letra de música.
Tudo feito de forma independente, na raça mesmo.

No Geral
A banda não segue nenhum padrão, nada pré-estabelecido, ao contrário, seguem seus instintos e criam suas próprias
linguagens.

Já ia me esquecendo de explicar o nome da banda: ele vem de um erro de digitação para a palavra “gostosa“. E o engraçado é que o cérebro, no final das contas, insiste em ler “gostosa” mesmo, da forma correta! Provavelmente há uma explicação científica para isso!

No final das contas, acredito que este trabalho é um disco bem honesto do ponto de vista de quem o criou, ou seja, saiu do jeito pelo qual foi pensado, com seus conceitos e diretrizes. Muito provavelmente seja um disco à frente do seu tempo e a banda tem plena consciência do que estão criando musicalmente.
Isso vem do coração deles, da necessidade de externar tal desejo de criar algo que fique marcado e não no limbo como vemos em trabalhos efêmeros diversos por aí.

Gosotsa, vocês vão levar 7 brejas gosotsamente geladas!

Formação
Drannath (Baixo, Piano, Voz, Pinturas, Poesias, Ilustrações, Textos e Design Gráfico)
Malu Gubolim (Guitarra)
Élitra (Bateria e Poesias)

Set List
01. Caminhão de Salto Alto
02. Que Babe
03. Fungus Mudus
04. Meio Vazio
05. O Sol Tá Maior
06. Tocar de Luas
07. Peito Aberto, Absorto

NOTA:   07/10

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