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Foto: Divulgação

Em apenas uma semana, um álbum foi criado. Composições, melodias, gravação e mixagem em apenas 168 horas, em um trabalho coletivo em 16 mãos. Esse foi o desafio que o grupo Xóõ (pronuncia-se Chó-On) passou durante a produção do seu álbum de estreia, de mesmo nome, gravado no estúdio do coletivo Swing Cobra, em Vila Isabel. O primeiro single, “É Tudo Roubado”, mostra uma prévia do clima do disco, que une música popular, conceitual, tribal e tecnológica.

Com oito integrantes, o grupo conta com destaques da música independente nacional como o carioca Bruno Schulz (produtor e músico, conhecido pelos trabalhos com Cícero), Cairê Rego e Felipe Pacheco (Baleia), Gabriel Barbosa (SLVDR e Posada e o Clã, também integrante da banda da cantora Duda Brack) e o mineiro Vitor Brauer (Lupe de Lupe). Completam o time Gabriel Ventura (Posada, Cícero, Duda Brack), Hugo Noguchi (SLVDR, Posada) e Larissa Conforto (Cheddars), os três integrantes da Ventre.

Primeiro trabalho lançado oficialmente pelo Swing Cobra, o Xóõ não é um projeto de features, mas sim uma banda nova lançando seu disco de estreia. “O Xóõ é uma espécie de projeto paralelo de todos nós. Esperamos fazer mais discos nessa formação e, quem sabe, shows também”, explica Larissa Conforto.

“O Swing Cobra continuará produzindo e lançando outros projetos nos quais acredita daqui pra frente. Os próximos não necessariamente terão ligação com a Xóõ, nem participação direta dos membros – ou seja, a parada é meio exclusiva mesmo, feita com um carinho estratosférico!”, alegra-se.

O single “É Tudo Roubado”, como sugere o nome, traz uma letra repleta de citações, na verdade, frases roubadas. De Fernando Pessoa a Yoda, passando por Kanye West, Bíblia, Gonzaguinha e um refrão roubado na íntegra da música “A Lenda”, do grupo de rap Quinto Andar. Enquanto a letra reproduz outras canções já escritas, o mesmo não pode se dizer da melodia surreal composta pelo grupo. O ritmo camaleônico traz nuances do manguebeat e do techno.

Vocal e compositor na Lupe de Lupe e no Xóõ, o mineiro Vitor Brauer foi ao Rio de Janeiro especialmente para a gravação do disco, sem músicas previamente criadas, trabalhando do zero em estúdio.

“O convite (para fazer o álbum) surgiu por causa de um conjunto de sorte. Acho que primeiramente foi por causa do Swing Cobra mesmo (o estúdio das bandas Ventre, Stereophant, Hover em parceria com o Bruno Schulz e integrantes do Baleia). Aí o Cairê e o Hugo deram a ideia de fazermos um disco meu em uma semana para aproveitar que estava rolando o estúdio. Acabei colocando na cabeça deles que isso podia virar um projeto de todo mudo e não um troço meu. Foi muita sorte minha de ter tanta gente talentosa ao meu redor e querendo fazer o disco com a gente”, conta Brauer.

“Eu, o (Gabriel) Ventura, Cairê (Rêgo) e Vitor estávamos em Belo Horizonte, quando a ideia surgiu e falei: ‘Vamos! Só diz quando que o resto dá pra resolver…'”, conta o produtor Bruno Schulz. “O resultado, como era de se esperar, foi uma coisa que jamais teria sido feita por cada membro exclusivamente nos seus outros projetos. Foi um processo de uma liberdade gigante”.

Muito mais do que uma banda entre amigos, o grupo Xóõ responde às críticas de ressignificação e assimilação de citações na música atual de forma contundente; não existe um convite para um debate e sim uma resposta, pondo um ponto final sobre a discussão do palíndromo que caracteriza o mundo da arte. Vitor Brauer é conhecido por já ter apropriado o nome de outro movimento para a sua Geração Perdida de Minas Gerais.

“Antes de mais nada, tem a vontade de fazer música junto de pessoas que compartilham admiração artística entre si. Falo isso não apenas pela presença ilustre do Vitor (que geral se amarra no trabalho, tanto na Lupe quanto em versão solo), mas pela possibilidade de várias formações inusitadas que dificilmente rolariam: tem várias músicas com dois baixos (eu e Cairê); cada música foi uma ‘banda’ diferente, tem uma que é a cozinha (baixo e bateria) da Ventre com a guitarra da Baleia, outra que são as cordas da Baleia com a cozinha do Clã, por exemplo”, conta Hugo Noguchi, baixista da Ventre, Posada e o Clã e SLVDR sobre a união das bandas e continua:

“Além disso, tem o exercício/desafio técnico e artístico de levantar um disco em tão pouco tempo: compor, arranjar, executar, produzir (não necessariamente nessa ordem). Isso somados à boa e velha diversão de estar com os amigos fazendo música sem a pressão das bandas, er, digamos, “principais” de cada um. Acho também que tem um lado de experimentar dentro do estúdio que a gente compartilha, meio que ‘sondar’ as possibilidades dele e medir a qualidade do que a gente pode produzir por lá. Enfim, são uma série de fatores que a gente só percebe olhando pra trás… a parada tinha que acontecer mesmo!”, analisa entusiasmado.

Quatro bandas, oito integrantes e muito trabalho! Cada um dos membros tinha um ritmo, uma concepção musical que teve de ser modificada. “Mudou tudo. Na minha banda ‘principal’, a Lupe de Lupe, quando componho, eu tenho de pensar em tudo: nos arranjos, nas letras, na mixagem e até na masterização. Pra mim foi muito bom mesmo ter tanta gente talentosa trabalhando junto, desde o início até o final do processo. Assim, pude focar mais nas letras”, explica Vitor sobre a experiência. “Isso foi uma espécie de magia da música acontecendo. A gente entregou as músicas pro Pacheco fazer o que ele queria e a gente recebeu elas melhoradas e mais malucas. Tudo isso são coisas que eu não tenho quando componho e gravo normalmente e foi isso que transformou e criou a Xóõ do jeito que ela vai vir ao mundo.”

Ouça “É tudo roubado”:

Fonte: Build Up Media

By Henrique Carnevalli

Viciado em música, Pirado na fase psicodélica do Ronnie Von e Corinthiano. Lupúlomaníaco e Beer Sommelier formado no ICB.

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