Um vocal que escancara uma sociedade de aparências, enquanto uma guitarra nervosa se une à cozinha marcante e pulsante. É assim que começa o EP homônimo que a Montenegro acaba de lançar. Com origem em Petrópolis, na serra fluminense, e radicado no Rio, o quarteto se inspira em sons igualmente potentes para lançar o projeto.
Formada por Glaucio Reynaud (vocais), Felipe Duriez (guitarra), Vinicius Junqueira (baixo) e Bruno Bade (bateria), a Montenegro fez um curto caminho até a gravação do primeiro trabalho. O início aconteceu em 2014, quando (na época, com Tiago Lima Amaral no baixo, que logo após as gravações se desligou da banda e deu lugar a Vinicius) o grupo se reuniu para dar vazão às ânsias criativas que não se concretizavam em seus trabalhos de origem. Foi então que, trazendo uma bagagem formada de Queens of the Stone Age, The Mars Volta, Rage Against the Machine, Faith no More e Black Sabbath, os quatro músicos chegaram ao som enérgico do EP de estreia.
Mas nem só de novidades é feito o álbum. “Tarde demais”, primeira canção de trabalho, já tinha ganhado uma versão ao vivo que levou a banda à seletiva da etapa carioca do Circuito Banco do Brasil. Quem abre o EP é a crítica social “Sociedade do Espetáculo”, energia mantida por “Além do escafandro”. “Paradoxo” destaca o vigor das linhas de baixo e da bateria, enquanto “Quimera” e “Metanoia” trazem poderosos riffs.
Para além da sonoridade, a Montenegro traz um peso nas composições. As letras vieram da vivência dos músicos, amigos próximos e a sociedade como um todo. Isso fica claro em “Sociedade do Espetáculo”, uma relação direta com a obra de Guy Debord. Toda a temática gira em torno da alienação e doutrinação feita pela mídia de massa, que muitas vezes manobra e manipula o público. Já “Além do escafandro” busca na história de uma pessoa depressiva respostas para a vida não sair da forma como é planejada, questionando o impacto que problemas e obstáculos têm na realização do que se deseja.
A vida moderna também dá o tom de “Tarde Demais”, cuja letra fala das consequências de nos tornarmos opinadores virtuais, protegidos pelo anonimato de uma tela. A letra aborda o arrependimento após o “enviar”, e o fato de opiniões pessoais poderem causar danos reais. “Paradoxo” brinca com a dualidade das escolhas (ou falta delas), expectativas e realidade. “É sobre depender da opinião e decisão de outro e isso travar um pouco a nossa vida, sobre as vezes a pessoa falar uma coisa e fazer outra, dizer que quer uma coisa e agir como quem não quer, daí o nome. É sobre promessas quebradas, sobre expectativas não cumpridas”, explica Glaucio.
“Quimera” se debruça sobre o imaginário, o fantástico, o utópico. A ideia veio da realidade paralela em que algumas pessoas escolhem viver, distorcendo o real em detrimento de seu próprio mundo. Por fim, “Metanoia” versa sobre transformações, mudanças radicais de postura, arrependimentos, quebras de comportamento. “Também tem a ver com Jung, pois fala de auto-cura, uma psique renovada após um surto. Assim, a metanoia seria um processo potencialmente produtivo. É sobre aquela ‘porrada’ que tem como consequência um aprendizado e uma evolução”, completa o vocalista.
As canções fazem parte de um amadurecimento musical que coloca a Montenegro como um dos novos trabalhos mais promissores da cena carioca. Com o EP, a banda estabelece uma identidade única, reunindo vivências múltiplas – enquanto Felipe é uma das guitarras do Hover, Vinicius é o baixo da formação atual dos Mutantes, desde 2006. Já Bruno, além de ex-Hover, é atual baterista do Zander. Glaucio completa o time trazendo experiências de outros trabalhos no ramo da música.
A gravação foi feita por Gabriel Arbex e Fellipe Mesquita no estúdio Superfuzz. A produção, mixagem e masterização ficaram a cargo de Gabriel Zander.
Ouça “Montenegro”:
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Fonte: Build Up Media