O tempo é preponderante no rock ‘n’ roll. Queiramos ou não, a soberania do clássico chega a ser ditatorial diante do contemporâneo. Tentar destituir os Beatles e os Rolling Stones do poder é como profanar o sagrado. De forma que muitas bandas contemporâneas não fazem mais do que aglutinar papéis coadjuvantes numa perpetuação decrescente do velho rock ‘n’ roll.
“Manifesto Cerrado”, o primeiro DVD do Uganga, é sim amparado pelo fator tempo. Afinal, ele foi produzido para celebrar os 20 anos de carreira do grupo. Mas sua relevância cultural e artística não se alicerça na simples contagem de sete mil e 300 dias passados desde o surgimento da banda, mas no que o grupo produziu ao longo desse período e que os colocou em posição de protagonismo na renovação do novo rock pesado. É claro, com respeito – quase religioso – aos mestres do passado.
“Manifesto Cerrado não é mero título. Esse DVD é, de fato, um manifesto: de sobrevivência; de superação; de renovação”. Essas palavras são de Manu Joker, vocalista e membro fundador do Uganga, cuja trajetória individual ainda soma gloriosos anos ao lado do Sarcófago, lenda mundial do Black/Death Metal.
Financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) da cidade de Araguari, no triângulo mineiro, o DVD “Manifesto Cerrado” é composto por duas premissas. A primeira é um documentário de longa-metragem que tem sim a intenção de contar a história da banda, mas a partir de uma narrativa moderna e quase interativa, prospectando o futuro.
“Nessas mais de duas décadas na estrada vivemos muita coisa”, continua Joker. “Passamos grande parte de nossas vidas tocando no Uganga. Apesar do documentário tratar de toda nossa trajetória, ele foca mais no período entre a pré-produção do álbum ‘Opressor’, por volta de 2012, até hoje. E com certeza considero esse período o mais importante desde que formei a banda em 1993. Durante esse tempo gravamos nosso trabalho mais forte, fizemos nossa segunda turnê pela Europa e outra tour incrível pelo Brasil, tocamos com alguns ídolos e aprendemos muito. Convivemos com diferenças, desgastes, vida e morte. O documentário marca, a meu ver, um renascimento para o Uganga, tanto na formação quanto na unidade, além de apontar para o nosso futuro”.
Não menos importante que o documentário é o show inédito que também acompanha o DVD. Realizado em Araguari, mais especificamente na histórica estação ferroviária Stevenson (construída em 1927 às margens da rodovia que liga Uberlândia e Araguari), o show contou com presença maciça de amigos e familiares da banda. Em formação circular, nessa noite o grupo executou uma das mais emblemáticas, introspectivas e expressivas performances de sua carreira.
“O show da estação Stevenson é o ápice do nosso renascimento como banda”, conta Joker. “Naquela noite acabamos com as dúvidas que poderiam haver sobre se continuaríamos ou não. Ali, em casa, cercados pelos nossos amigos mais próximos, familiares, no nosso momento de maior fraqueza, a banda se reencontrou. É aquilo: para perceber o entorno é preciso olhar pra dentro primeiro.”
Direção e produção de “Manifesto Cerrado” são assinadas por Eddie Shumway, cineasta mineiro que há muito tempo vem produzindo a maioria dos trabalhos audiovisuais do Uganga.
“Esse trabalho levou quatro anos pra ficar pronto. Fiquei muito feliz também por ter tido a oportunidade de colaborar com o Eddie na edição. Ele é um cara muito próximo da banda, trabalhamos bem juntos e ele tem uma visão interessante e neutra do Uganga. Temos muito orgulho de mais esse trabalho e em 2017 várias outras páginas serão escritas”, finalizou, orgulhoso, Joker.
“Manifesto Cerrado” será lançado em Fevereiro de 2017 através de plataformas digitais. A sua versão física em DVD sai em Março pela Sapólio Rádio.
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Fonte: Som do Darma